Família acusa PMs de rasparem cabeça de adolescente com facão em comunidade: ‘nos humilhando’

Menor de 15 anos estava em casa em São Vicente (SP) quando, segundo a família, os policiais teriam entrado, se trancado com o menor no quarto e, além de raspado a cabeça, teriam apontado arma para adolescente. A SSP-SP disse que não há registro de denúncia e parentes falaram em medo.

A família de um adolescente, de 15 anos, acusa policiais militares do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) de terem raspado a cabeça do menor de idade dentro da própria casa, no Dique do Caixetas, em São Vicente, no litoral de São Paulo. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou não ter encontrado denúncia sobre o caso. A família justificou que tem medo de registrar a ocorrência.

Nesta segunda-feira (19), a irmã e mãe da vítima contaram como se sentem inseguras morando em uma favela durante a 3ª Fase da Operação Verão, deflagrada após o assassinato do PM da Rota Samuel Cosmo, baleado no rosto, e que soma 27 suspeitos mortos.

No momento da abordagem, cinco menores de idade e um rapaz de 18 anos estavam no local. A irmã da vítima, de 24, havia ido ao mercado quando, segundo ela, os policiais entraram no imóvel. A mulher contou que a mãe ligou avisando o que estava acontecendo e ela retornou imediatamente.

“Eles [policiais] estavam com a porta trancada. Empurrei perguntando o que estava acontecendo e perguntaram quem eu era, meu nome, idade e se trabalho”, contou ela.

Em seguida, outro policial falou para deixarem ela entrar para que contasse o que sabia. Segundo a mulher, os agentes queriam que ela confirmasse que o adolescente já havia sido preso, mas, como isso não aconteceu, ela negou e eles deixaram o local.

Ela então viu o irmão com a cabeça raspada e sangrando e, ao questioná-lo, ele disse que os policiais tinham feito aquilo. “O medo de ir atrás deles [PMs] e falar alguma coisa é maior ainda né? […] Eles acham que todo mundo que mora na favela é bandido, traficante, mas não é”.

Segundo a mulher, após ter sido agredido pelos policiais, na última quinta-feira (15), o irmão abrigou-se na casa de outro parente e não tem ido à escola por medo.

“É uma opção de vida que a gente tem. É o que a gente pode bancar. Não é porque a gente gosta de ficar ali naquele meio e confusão. […] As crianças ficaram se tremendo, com medo, todo mundo chorando sem entender porque tinha acontecido aquilo”, afirmou.

Ela contou que não registraram boletim de ocorrência por medo. “Espero que essa operação termine, porque está acabando com a vida de todo mundo. Ao invés de correrem atrás dos bandidos, que fazem coisa errada com eles, estão matando muita gente inocente e trabalhadora”.

Insegurança

A mãe falou que se sente insegura em sair para trabalhar como auxiliar de limpeza e deixar os filhos em casa. “Nem trabalhar em paz a gente pode mais. A qualquer momento eles podem entrar na minha casa e fazer o que quiserem”.

A mulher contou que não acredita que vá resolver algo denunciar o caso, pois, segundo ela, será a palavra da família contra a dos policiais. “A gente se sente inseguro. Quem deveria estar defendendo a gente está nos humilhando”.

Ela disse ter ficado indignada com a situação e espera que os moradores das comunidades tenham um pouco mais de paz. “A gente trabalha e luta para viver”.

“Ele [policial] meteu o facão na cabeça do meu filho, batia nele com o facão e apontando a arma na cara dele. Ele tem 15 anos”, disse a mãe.

O que diz a SSP-SP?

Em nota, a SSP-SP informou que, até o momento, não houve qualquer denúncia sobre o fato, e que a Corregedoria da Polícia Militar está disponível para receber denúncias sobre a atuação policial.

Segundo a pasta, as forças de segurança do estado são instituições legalistas que atuam no estrito cumprimento do seu dever constitucional, e suas corregedorias também estão à disposição para formalizar e apurar toda e qualquer denúncia contra agentes públicos, reafirmando o compromisso com a legalidade, os direitos humanos e a transparência.

A SSP-SP informou, ainda, que desde o início da 3ª fase da Operação Verão, em 7 de fevereiro, foram presos 665 criminosos, incluindo 247 procurados pela Justiça. Além disso, foram apreendidos 156,3 quilos de drogas e 79 armas ilegais, incluindo fuzis de uso restrito.

Em contato com a Polícia Militar, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui