Dia Mundial do Sono promovido pela Sociedade Mundial do Sono é comemorado nesta sexta-feira (15). Especialista e paciente relatam experiências com o canabidiol, que é uma substância extraída de forma isolada da planta da maconha, que é proibida para uso recreativo.
O uso excessivo de telas, estresse, sedentarismo e má alimentação contribuem para uma das maiores vilãs da saúde humana: a insônia. No Dia Mundial do Sono, nesta sexta-feira (15), em conversa com um médico especialista em sono sobre o óleo de canabidiol (CBD). A substância química é extraída da planta da maconha, mas, se prescrita, pode ser usada de forma medicinal para tratar o problema.
A planta, entretanto, é proibida para uso recreativo. Os efeitos do CBD ainda estão em análise e, por este motivo, não há um consenso entre os especialistas sobre a eficácia. “Existem muitos outros tratamentos que antecedem e devem ser utilizados com o diagnóstico correto dos tipos de insônia”, disse Andrea Bacelar, médica e diretora da Associação Brasileira do Sono (ABS). (leia abaixo)
O médico e especialista em sono Marcelo Bechara explicou à equipe de reportagem que a insônia é uma queixa da maioria dos brasileiros. Isto foi constatado no último levantamento da Associação Brasileira do Sono (ABS) de que mais de 73 milhões de pessoas sofrem com o problema no país.
“Se não dormir bem, não vai ter energia para o dia seguinte. Vai estar sempre com sono, cansado, sem disposição para trabalhar direito e fazer exercícios físicos. Está virando, literalmente, um exército de zumbis”, afirmou o especialista.
Bechara acrescentou que a insônia pode desencadear transtornos psicológicos e doenças que podem levar à morte. Para Andrea, existem outros tratamentos aconselháveis, como terapias cognitivas comportamentais e as de aceitação e compromisso.
E o canabidiol?
Bechara entende que o uso do óleo de canabidiol entra como solução para uma resposta mais rápida, e para quem não responde tão bem aos demais tratamentos.
O médico explicou que a substância é uma molécula que os humanos já têm no organismo e é responsável pelo equilíbrio da saúde mental e física.
O corpo humano, no entanto, não produz esta substância o suficiente e, algumas pessoas, precisam desta ingestão do CBD como uma suplementação. Este, inclusive, é o caso do próprio Bechara, que passou a prescrever canabidiol para os seus pacientes após resolver a própria insônia com o uso dele.
A médica e diretora da Associação Brasileira do Sono (ABS) Andrea Bacelar, por sua vez, contraindica o uso do CBD para o tratamento da insônia. De acordo com ela, os estudos ainda têm muitos vieses e testes com diferentes pacientes. Por este motivo, a especialista afirmou que não há um consenso.
De acordo com Andrea, se houver a necessidade de medicamentos, é necessário atenção aos remédios psicotrópicos, que causam dependências e comorbidades nos pacientes. Ela ressaltou, ainda, que a escolha ideal de tratamento se dá com a individualização de cada caso.
Casos
Bechara explicou que começou a dormir mal na faculdade e esta condição permaneceu por 20 anos, quando decidiu procurar um tratamento e encontrou o uso do CBD. “Em alguns dias eu já dormia que parecia criança. Um sono poderoso e não é aquele que você fica chumbado no dia seguinte. Você acorda com disposição”.
O especialista em Marketing, Márcio Ribeiro Leite, de 40, também recebeu a prescrição do canabidiol. O morador de Praia Grande, no litoral de São Paulo, contou à equipe de reportagem que, aos 12 anos, precisou fazer um tratamento de hidrocefalia [acúmulo de líquido no cérebro] e duas décadas depois, foi diagnosticado com crises convulsivas do lóbulo temporal.
O que Márcio descobriu ter foi um dos tipos mais comuns de epilepsia, que afeta a visão. Desde então, junto ao excesso de tela, má alimentação e sedentarismo, passou a ter insônia e crises convulsivas em um curto espaço de tempo.
“Eu não era produtivo e não conseguia raciocinar direito. A crise [convulsiva] era como uma sensação de que fosse de ficar cego. Era muito ruim e desesperador. Depois do tratamento [com canabidiol e vitaminas] eu nunca tive mais nada”, finalizou.
Marcelo Bechara ressaltou que o uso do canabidiol, assim como qualquer outro tratamento, deve ser prescrito por um médico.