Celeste Arantes do Nascimento, mãe do Atleta do Século, morreu aos 101 anos, em Santos (SP). O cemitério vertical Memorial Necrópole Ecumênica fica na cidade, já entrou para o Guinness Book e, inclusive, abriga o mausoléu do Rei.
Celeste Arantes do Nascimento, a mãe de Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, será sepultada neste sábado (22), no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos (SP). Trata-se do primeiro cemitério vertical da América Latina, que é considerado o mais alto do mundo segundo o Guinness Book, o livro dos recordes. O local também abriga o mausoléu com o corpo do Atleta do Século.
Celeste morreu na sexta-feira (21), no Hospital SerPiero, em Santos (SP). A rainha-mãe era mineira de Três Corações e teve três filhos: Pelé, Jair (Zoca) e a caçula Maria Lúcia, responsável pelos cuidados dela.
A despedida de Celeste será realizada no Salão Nobre do Memorial, no bairro Marapé. O velório está previsto para acontecer às 9h e o sepultamento, às 15h.
Ela será sepultada em uma área do cemitério destinada à família de Pelé, no 9° andar da construção vertical, onde foram enterrados o pai do ex-jogador, João Ramos do Nascimento, o Dondinho, e o irmão dele, Jair Arantes do Nascimento.
A sepultura da família, que tem vista para o Estádio Urbano Caldeira – a Vila Belmiro – não é uma área restrita e pode ser acessada por quem visitar o cemitério vertical.
Pelé ao lado do Pai, Dondinho, e do irmão, Zoca — Foto: Agência Estado
Sepultamento de Pelé no Memorial
Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos (SP), é considerado o cemitério vertical mais alto do mundo — Foto: Arquivo
O lóculo é o espaço onde o caixão é colocado em cemitérios verticais. Pelé escolheu o nono andar do Memorial, com vista para a Vila Belmiro, em homenagem ao pai, que usava a camisa de número nove nos tempos de jogador.
A compra de um plano que assegurava o uso de lóculo para a família aconteceu em 7 de julho de 2003, quando o Rei tinha 62 anos. Em entrevista ao jornal A Tribuna na época, ele ressaltou as qualidades do local.
“Escolhi por sua organização, limpeza e estrutura. É um local que transmite paz espiritual e tranquilidade, onde a pessoa não se sente deprimida, sequer parece com um cemitério”, explicou Pelé.
Cemitério no Guinness Book
Pelé escolheu ele próprio seu local de sepultamento — Foto: Memorial Necrópole Ecumênica/Divulgação
O cemitério vertical está desde 1991 listado no Guinness Book como o mais alto do mundo. Com altura equivalente a um prédio de 40 andares, o local conta também com vegetação nativa, lagoas com carpas e tartarugas, um viveiro com diversas espécies de pássaros e aves, além do Museu de Veículos.
O espaço tem lóculos de nomes famosos da música brasileira: Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr, morto em março de 2013, e do baixista Champingon, do mesmo grupo, que perdeu a vida seis meses depois. O pugilista Éder Jofre, que morreu em outubro de 2022, foi cremado no Memorial.
Mausoléu de Pelé
Duas estátuas folheadas a ouro recepcionarão os visitantes no Mausoléu de Pelé — Foto: Thiago D’Almeida
Duas estátuas folheadas a ouro recepcionam os visitantes no mausoléu onde está o corpo de Edson Arantes do Nascimento.
No espaço de 200 m² em homenagem ao eterno camisa 10, o público pode ver: uma simulação da torcida do Santos Futebol Clube nas paredes, o piso com grama sintética e um teto azulado acima do jazigo, que é dourado e tem imagens de momentos marcantes da carreira do Atleta do Século, que morreu aos 82 anos, em 29 de dezembro de 2022.
O mausoléu foi projetado por Pepe Alstut, proprietário do Memorial – que morreu em 2018. Pelé teve um espaço reservado desde 2003, com uma vista para a Vila Belmiro. Porém, a família e o cemitério fizeram um acordo para que o craque fosse sepultado no mausoléu por uma questão de logística para o acesso do público.
Jazigo, onde está o corpo de Pelé, é dourado e tem detalhes de momentos da carreira do Rei — Foto: Thiago D’Almeida
Além dos retratos de momentos marcantes na carreira de Pelé, como o famoso soco no ar em comemoração aos gols, os detalhes do jazigo chamam atenção: há cantoneiras em formatos da Taça Jules Rimet [nome do troféu da Copa do Mundo da FIFA], uma camisa com o número 10 e uma coroa.
Os visitantes também têm acesso ao Mercedes Benz S-280, dado para Pelé pela montadora em 1974, em comemoração ao milésimo gol do atleta. O carro estará exposto no Museu de Veículos do Memorial.
Confira os itens
- Estátuas folheadas a ouro
- Simulação da torcida do Santos Futebol Clube nas paredes
- Piso com grama sintética
- Teto azulado acima do jazigo
- Jazigo dourado e com imagens de momentos marcantes da carreira de Pelé
- Retratos de momentos marcantes na carreira do Rei
- Cantoneiras do Jazigo em formatos da Taça Jules Rimet
- Camisa com o número 10
- Coroa de Rei
- Mercedes Benz S-280, dada a Pelé por montadora em 1974, em comemoração ao milésimo gol do atleta. O carro estará exposto no Museu de Veículos do Memorial.
Camisa da Seleção Brasileira está exposta no Mausoléu do Rei do Futebol — Foto: Thiago D’Almeida
Morte de Celeste
Médico que atendeu Dona Celeste Arantes, mãe de Pelé, compara a morte dela com a da Rainha Elizabeth II — Foto: Arquivo/A Tribuna Jornal e Reprodução
O médico Marcelo Noronha, do Hospital SerPiero, afirmou que Celeste morreu devido à idade avançada. Ele ‘comparou’ a morte da mãe de Pelé com a da Rainha Elizabeth II, monarca britânica morta aos 96 anos, em setembro de 2022.
“A Rainha Elizabeth faleceu em casa, em cuidados paliativos, e no atestado de óbito dela, que já foi divulgado, está escrito idade avançada. A Dona Celeste, que também não deixa de ser uma rainha, tinha 101 anos e faleceu pela finitude da vida”, explicou o médico.
Segundo ele, Celeste era uma paciente acamada, que se alimentava por sonda e não respondia nem se comunicava mais. No entanto, ela não tinha doenças ‘agudas’. Durante os últimos dias hospitalizada, a idosa respirava espontaneamente, ou seja, sem auxílio de aparelhos.
“Fomos procurados pela família para trazer a Dona Celeste aqui para os nossos cuidados. Ela já estava acamada há quase 4 anos e veio para cá no dia 15 [de junho]”, complementou Noronha.
Pelé e Dona Celeste, a mãe dele — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Ainda de acordo com o profissional, a família decidiu hospitalizar Celeste para que ela recebesse um cuidado digno. “Aqui temos uma equipe voltada aos tratamentos paliativos”, explicou ele.
A mãe de Pelé, segundo o médico, morreu com tranquilidade, sem sofrimento e de uma forma que fosse calma tanto para ela quanto para os familiares, que já sabiam que ela poderia não retornar à casa no ato da internação.
“A família acompanhou todo processo. A gente se falava e [ainda] fala diariamente, principalmente a irmã do Pelé, Maria Lúcia, que é filha da Dona Celeste, e a Danielle, filha dela [neta]”, finalizou.
Pelé em entrevista ao lado da mãe, dona Celeste – 20/02/2004 — Foto: Arquivo A Tribuna
Todos os filhos de Dona Celeste foram frutos do relacionamento com João Ramos do Nascimento, o Dondinho, com quem ela foi casada até 1996, ano em que morreu.
Pouco antes de Pelé morrer, aos 82 anos, ele prestou uma homenagem aos 100 anos da mãe, em 20 de novembro de 2022, dia da abertura da Copa do Mundo no Catar.
Pelé agradeceu à Dona Celeste pelos ensinamentos ao longo da vida.
Mãe de Pelé completa 100 anos e rei do futebol faz homenagem nas redes sociais. — Foto: Reprodução/ Instagram
“Desde criancinha, ela me ensinou o valor do amor e da paz. Eu tenho muito mais de uma centena de motivos para agradecer por ser o seu filho. Compartilho essas fotos com vocês, com muita emoção por celebrar este dia. Obrigado por todos os dias ao seu lado, mãe”, escreveu Pelé, à época, nas redes sociais.
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Dona Celeste era contra Pelé nos campos
Apesar de passagens por Atlético/MG, Hepacaré, de Lorena (SP), Vasco de São Lourenço (MG) e Bauru Atlético Clube, a carreira do pai do Rei do Futebol não foi longeva em razão das contusões. E justamente por essa razão, além de não acreditar que o futebol fosse dar futuro, dona Celeste tinha resistência em ver o filho no mundo da bola, embora soubesse de sua inata vocação nas brincadeiras nas ruas. Chegou a impedir que o Bangu, do Rio de Janeiro, o contratasse.
Para convencê-la, foi necessário muito trabalho por parte de Dondinho e, mais ainda, Waldemar de Brito – este último atacante famoso nos anos 1930 e 1940, responsável por levá-lo para o Santos em 1956. A família só deixou Bauru, cidade do Interior de São Paulo, para morar em Santos oito anos depois, em 1964.
Em suas redes sociais, Pelé publicou uma dedicatória e agradeceu à “Dona Celeste” pelos ensinamentos ao longo da vida — Foto: Reprodução/ Instagram
O desejo de dona Celeste sempre foi que Pelé, ou melhor Dico, fosse um bom filho e uma boa pessoa, com um básico e fundamental conselho à tira-colo: que ele tivesse muita fé. Um sentimento que o Rei do Futebol carregou em seus 82 anos e levará para sempre nesta despedida para a eternidade.
“Ele falava que não era fácil ficar longe, sofria de saudade da família. Mas que deveria continuar para conseguir chegar ao seu objetivo de vencer. Não queria voltar. Meu coração ficava apertado, mas eu tinha que apoiá-lo”, contou dona Celeste em entrevista para A Tribuna em 2012, obtida por intermédio da neta Danielle.
Cortejo antes do sepultamento do Rei
O cortejo com carro dos bombeiros que levou o corpo de Pelé pelas ruas de Santos parou na porta da casa da Dona Celeste, em uma homenagem emocionante que reunião milhares de pessoas, em 3 de janeiro de 2023. Por conta de questões de saúde e com 100 anos na época, ela não participou do velório do filho na Vila Belmiro.
Enquanto aguardavam a chegada do caminhão do Corpo de Bombeiros, uma multidão de pessoas parou na frente da casa de Dona Celeste. Durante todo o tempo, os fãs entoaram músicas enaltecendo o Rei do Futebol, além de gritos e orações de apoio para a mãe do Rei do Futebol, que não havia aparecido na janela até então. Outras centenas de pessoas chegaram ao local acompanhando o cortejo realizado pelos bombeiros.
Apesar da expectativa das pessoas, Dona Celeste não apareceu na janela para ver a despedida do filho. Segundo pessoas próximas ouvidas, em condição de anonimato, a mãe de Pelé estava extremamente debilitada e acamada, recebendo cuidados médicos e não ‘teria a exata noção’ da morte do Rei do Futebol. Maria Lúcia, irmã do Rei que cuida de Dona Celeste, teve a oportunidade de dar o último adeus.
Cortejo de Pelé passou pela casa da mãe dele, Dona Celeste, em Santos, no litoral de SP. — Foto: Daniela Rucio