A CERA FAZ SHOW INTENSO E SURPREENDENTE EM SANTOS!

“Show foi destaque inesperado do fim de semana, com set list nostálgico e recheado de clássicos”

Banda apostou certo no legado de O Surto e de seu primeiro albúm: Todo Mundo Doido!

Quando anunciado, o show da banda A Cera quase passa desapercebido entre diversos outros que ocorreram na região nesse último fim de semana, digo quase, porque na chamada do evento que aconteceria no Bar Rock Mucha Breja, espaço sempre mais que agradável, destacava: “com integrantes da formação original de O Surto”, o que atiçava a curiosidade.

É público e notório que a banda O Surto, conhecida pelo hit atemporal “A Cera” encontrou seu auge nos dois primeiros álbuns, mais especificamente no primeiro: Todo Mundo Doido, um clássico interessante do Rock BR e que merece ser redescoberto pelas novas gerações, dado o número absurdo de boas músicas, que aproveitavam a onda Hardcore que permeou os anos 90 e início dos 2000 no país, e que gerou entre outros o Raimundos, aquele estilo praiano bem Charlie Brown Jr. e um pouco de Nu Metal, que estava em voga na época.

Junte tudo isso a produção do experiente Rick Bonadio, que tinha um toque de midas bem eficiente, já que houvera anos antes lançado simplesmente Os Mamonas Assassinas e o próprio Charlie Brown Jr, credenciais que por si justificam a sensação de plena maturidade da banda em seu primeiro trabalho em uma grande gravadora.

Vocalista Bruno Santos é um dos destaques positivos: personalidade e nova vida aos clássicos e novos sons!

A formação original era Reges Bolo no vocal, Franklin Medeiros no baixo e backing vocal, Zé Wilclei na guitarra e Jucian Carlos na bateria, fazendo uma bela cozinha sonora, repleta de bons riffs, groove, peso e referências nordestinas como o repente e letras desbocadas.

Com o falecimento de Reges Bolo em 2023, a possibilidade de ver O Surto como foi idealizado, parecia impossível, mas surpreendentemente o projeto musical A Cera chega perto de emular o clima e ainda traz novas direções para a banda, isso porque, de forma honesta, sem Reges Bolo obviamente, e o guitarrista original Zé Wilclei, metade da formação original, ou seja, Jucian Carlos na bateria e Franklin Medeiros no baixo, lembrando que o baixista foi parte dos vocais do primeiro disco em trechos eternizados em diversas canções, se juntam a Bruno Santos na voz e Tavera Valentim na guitarra para comemorar 25 anos do primeiro e icônico álbum, e que comemoração!!!!

Com aquele bom e velho clima de banda se reestruturando e voltando à estrada, até mesmo um tanto quanto underground, era onze e meia da noite quando a banda entra ao palco do Mucha Breja com o peso de “Todo Mundo Doido”, primeira música da noite, cartão de visita certeiro, pois já a partir daqui, o público presente veio abaixo.

Vale destacar que o Surto passou por diversas formações, mas o fã xiita tem um carinho especial mesmo por, Wiclei, Jucian e Franklin. O baixista por exemplo além de ter sua voz eternizada em várias canções com suas eficientes participações, foi responsável pelo Groove nu metal que era característica da banda, assim como a sempre pesada bateria, que nunca arreda o pé em hits como “Hempadura”, a ótima “Hip Hop Repente” ou a pesada “P.Q.N.T.M.T” que no disco contou com a participação de Egypcio, vocalista da também lendária Tihuana, aliás, as três músicas foram executadas nesse show e curiosamente, junto com “Cangsta”, “Veneno” e duas novas, foram o ponto mais que alto, para fã nenhum botar defeito.

Mas com metade de O Surto no palco, como uma celebração, colocando na estrada hits que injustamente estavam fora das turnês Brasil afora há muitos anos, defender um legado como esse exigiria duas coisas importantes: um vocalista capacitado e carismático e um guitarrista que executasse os riffs e cadenciamentos criados por Zé Wilclei a perfeição, se a missão parecia bem difícil, com Bruno Santos e Tavera Martins, ela pode se dar como cumprida, o que vemos não é um catado, mas uma banda de verdade e entrosada, o que tira o ar de “juntado desorganizado” que quase sempre nos frustra em shows tributos.

Sem concessões: Show apostou no peso dos riffs de músicas como, Hip Hop Repente!

Aliás, obviamente a banda faz um tributo a tudo que foi construído antes, mas Bruno, vocalista que também mantém o projeto Névula, mostra firmeza e personalidade as clássicas músicas, ele não imita Reges Bolo, mas traz sua visão sobre as canções, o que é sempre bem vindo e soa natural. Tavera é técnico e virtuoso e com uma excelente presença de palco, é aquele tipo de acerto que é ótimo ver.

Até mesmo uma versão improvisada de Ioiô com Franklin Medeiros no vocal é importante, pois marca posição e destaca a participação do artista na criação do que está sendo reverenciado 25 anos depois. Com a execução de todas as músicas do álbum Todo Mundo Doido, as bem vindas “Menina” e “O Veneno”, do segundo disco Equalizando as ideias, covers espertos como o de Faith, versão Limp Bizkit, Será que é isso que eu necessito? do Titãs e novas canções, com destaque a duas que não me recordo o título, mas que são bem pesadas e interessantes, o show foi uma bela surpresa nesse fim de semana.

Era um pecado essa coleção de boas músicas não serem tratadas com o devido respeito, e ver A Cera o fazer e ainda apontar caminhos com novas canções, já que com um setlist desses, dá para criar novas coisas sem pressões e ir encaixando aos poucos, focados apenas na arte em si, pode certamente ao longo do tempo criar uma nova base de fãs.

Ah, ao final do show o momento apoteótico: A Cera, o hit continua incrível ao vivo, parece que foi gravado hoje e nessas horas, Jucian e Franklin, os mais velhos do grupo, voltam a ser os garotos que em 2001 fizeram um show caótico e catártico no Rock In Rio e que entraram para a história com uma das músicas mais tocadas nas rádios, shows e eventos pelo país e é justo que comecem a tratar o legado que eles deixaram com muito respeito, afinal, eles construíram tudo isso!

Longa vida A Cera, O Surto vive!

Nota 10 de 10.

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