Arqueólogos encontraram em Santos (SP) muitas louças, vidros, produtos importados de difícil acesso, mas também peças que podem ter sido utilizadas por escravos.
Um sítio arqueológico com louças, vidros, utensílios domésticos e itens importados foi encontrado durante escavações no bairro Paquetá, em Santos, no litoral de São Paulo, onde será construído um complexo habitacional. A descoberta arqueológica revela a riqueza da sociedade santista no século 19. Além disso, foram achadas peças que podem ter sido utilizadas por escravos.
O bairro, que viveu um processo de desvalorização imobiliária com os casarões antes ocupados pela classe alta transformados em cortiços, agora passa por revitalização com a construção do residencial popular da Companhia de Habitação (Cohab), com recursos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).
Antes das obras, a empresa A Lasca havia sido contratada para pesquisar a área e garantir que a história local fosse preservada a partir da recuperação de louças, vidros e utensílios domésticos, por exemplo.
Segundo o arqueólogo responsável pelo trabalho, Marcelo Rolim Manfrini, as escavações aconteceram entre janeiro e maio deste ano. Ele afirmou que o material achado é interessante por causa da delimitação cronológica.
“Tem muita peça que é datável, mas nem toda peça é fácil de datar. Uma louça branca ou caco de vidro sem identificação, a gente acaba perdido e tendo que interpretar pela forma de fabricação”.
Peças de cerâmicas encontradas em sítio arqueológico, no bairro Paquetá, em Santos (SP) — Foto: A Lasca/Divulgação
Segundo ele, quase 3 mil peças entre louças, vidros e utensílios domésticos foram achadas, sendo 1.207 delas fragmentos de louça — a maioria importado — e 1.068 vidros, que representam garrafas do século 19, também importados, mostrando o consumo da elite que habitou o bairro entre 1880 e 1910.
“Encontramos muitas peças bem conservadas, conseguimos identificar selos e quando a gente consegue encontrá-los, consegue rastrear catálogos específicos identificando procedência do material e período de fabricação”, afirmou.
Manfrini disse que cerca de 300 selos datáveis foram achados nas peças, o que ajudou cronologicamente a entender como era o consumo de quem morava no bairro entre o final do século 19 e começo do 20, além da origem dessas peças.
“Quantidade muito grande de produtos importados da Europa, Estados Unidos, o que não é barato e não era qualquer pessoa que tinha acesso”, afirmou.
Entre os produtos raros encontrados pela empresa arqueológica, estavam quatro potes de porcelana usados para armazenar pasta de dente. “Todos datados, sendo três da Inglaterra e um da Alemanha, eram todas de sabor cereja e um hábito de higiene delimitado às classes mais avançadas”.
Por outro lado, além do glamour, foram encontradas aproximadamente 20 peças de vidro reciclado — em formato lascado — que, segundo Manfrini, evidenciam a circulação de comunidades afrodiaspóricas no bairro.
Louças descobertas em sítio arqueológico do Paquetá, em Santos, revelam glamour da elite sansitas no século 19 — Foto: A Lasca/Divulgação
“Haviam outras pessoas circulando no mesmo ambiente, os ricos não ficavam sozinhos. Havia essa comunidade trabalhando para eles e a presença está visível no sítio, mesmo que em menor quantidade”, afirmou.
A princípio, as peças recuperadas ficarão sob a guarda do Museu Municipal Elisabeth Aytai, em Monte Mor (SP). No entanto, antes, os pesquisadores ainda farão contato com duas instituições cadastradas em Santos e que estão habilitadas a receber os materiais do sítio arqueológico.