Por Heliakon Zanelatto – BSTV
Hoje escrevo não como empresário, não como contador, não como alguém acostumado a lidar com números, sistemas ou vozes…
Escrevo como ex-aluno.
Como alguém que acaba de perder um, dos vários incríveis profissionais, que participaram da minha formação escolar, humana e comunitária: Alessandra Valente, vice-diretora da EMEF Delcélia.
Alessandra faleceu vítima de um câncer de mama fulminante — desses que chegam sem aviso, sem sintomas claros, sem tempo para reação. Ela não soube com tempo suficiente, não teve chance de lutar, acabou partindo rapidamente, deixando a comunidade escolar em choque.
Alessandra foi minha professora na 2ª série, certamente foi uma, das várias pessoas que estiveram ali, ajudando a construir um aluno que mais tarde se tornaria o profissional que hoje sou.
Lembro do jeito, da explicação, do cuidado e da percepção de mundo que havia à época, mas mais do que isso; da profissional que conduziu com mestria, há poucos meses, uma reunião com pais e mães dispostos a agregarem mais ainda o futuro da comunidade escolar, junto à APM do Delcélia.
Educadores como ela fazem parte da base que sustenta uma comunidade inteira.
Reencontrá-la como gestora, já vice-diretora, só confirmou o que eu já era sabido: ela levava a educação a sério, muito a sério.
Em nosso último encontro, Alessandra pontuou um sonho “bobo”, porém que acabou sendo realizado, um sonho antigo: assistir ao show dos Backstreet Boys, sua banda favorita.
Há poesia nisso. E também muita dor.
Alessandra estava conduzindo as tratativas da APM da EMEF Delcélia.
Seguir adiante não é só sobre papéis, assinaturas e processos:
é sobre honrar o trabalho de alguém que acreditava profundamente na educação.
As escolas municipais não são apenas instituições pedagógicas; são o alicerce da vida comunitária.
Ali passam os filhos dos pequenos empreendedores, os jovens que um dia estarão na política local, as crianças que serão a próxima geração de profissionais, de trabalhadores, de sonhadores.
A educação forma desde quem empreende até quem governa — e forma, principalmente, quem aprende a conviver, a pensar, a construir.
E profissionais como Alessandra são parte dessa base invisível que mantém tudo de pé.
Porém, a morte de Alessandra é um alerta duro e doloroso.
O câncer de mama é uma das doenças que mais matam mulheres no Brasil — mas também uma das que mais têm chances de cura quando diagnosticada cedo.
Só que ele não espera.
Ele não avisa.
Ele não respeita rotina, cargo, idade, cansaço ou correria.
Por isso, esse doloroso alerta precisa ser pontuado:
Façam os exames.
Levem a sério qualquer sinal.
Homens, incentivem as mulheres da família.
Famílias, conversem sobre isso.
A prevenção não garante tudo, mas pode salvar vidas.
E talvez tivesse salvado a dela.
Perder Alessandra tão de repente é doloroso para quem estudou com ela, trabalhou com ela e conviveu com ela na escola.
Mas ela deixa um legado: o exemplo de quem serviu à comunidade com seriedade, comprometimento e humanidade.
Que o seu caminho continue iluminando a escola que ela tanto amou.
E que nós, como comunidade, aprendamos com sua partida a valorizar a saúde, a educação e as pessoas que constroem o amanhã — muitas vezes em silêncio, nos corredores de uma escola pública.
Descanse em paz, Alessandra.
Obrigado por ter sido uma, das várias pessoas que fizeram diferença na trajetória de tantos estudantes peruibenses.

— Heliakon Zanelatto, para a BSTV


