Terceira via, enfim, diz a que veio…
O primeiro confronto entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL) foi emblemático e não obstante, extremamente importante para o estabelecimento de narrativas: primeiro bloco, começo do programa, maior audiência e a chance de um desmontar o outro logo de início.
Bolsonaro parte para cima, citando casos de corrupção do Governo petista, mesmo que seu Governo, curiosamente, seja um poço de escândalos como o do MEC, da compra de vacina superfaturada, de filhos comprando mansões, do caso Queiroz, de andar de braços dados com Valdemar Costa Neto e por aí vai.
Inacreditavelmente, dada a experiência de Lula, sua resposta parece vinda do inicio dos anos 2000: usou feitos de seu Governo, em um discurso meramente politiqueiro, sem responder seu principal adversário a altura e o pior, deixando o “Messias” com a narrativa da moralidade política, em resumo, Lula agiu como se estivesse em 2006 com o seu governo fresco na memória das pessoas.
A estratégia de Lula se mostrou errada, tendo em vista que a repetição dos casos de corrupção à exaustão por conta da mídia e da classe política, criou outro tipo de memória para esses momentos, logo, pareceu que claramente Lula não esperava um baque desse e o pior, com um Bolsonaro aparentemente preparado e com palavras na ponta da língua, ficou perdido.
Ciro (PDT), em seguida voltou a restabelecer as coisas, apontando defeitos do Governo e dando a sua já tradicional aula de extremo conhecimento e Simone Tebet (MDB), mostrou também suas garras: iria cavar um espaço no debate político.
Tudo isso no primeiro bloco e a percepção era: para Bolsonaro, o primeiro bloco fora irretocável. Para Lula uma tragédia que acabou se mostrando irrecuperável, inclusive dando mostras de cansaço. Para Ciro e Tebet, a noite renderia grandes e memoráveis momentos.
Daí para a frente, mesmo respondendo bem quando questionado, Bolsonaro foi perdendo fôlego, e quanto mais técnico era o desafio, mais seu despreparo aparecia. Lula parecia continuar mantendo a estratégia de pouco confronto e foi engolido com facilidade e a coisa não ficou pior para ele, simplesmente porque seu pior adversário optou por ATACAR uma jornalista Mulher, que mesmo com uma pergunta tendenciosa sim, pois independente de se concordar ou não com a visão da Vera Magalhães, espera-se um pouco mais de neutralidade em um momento desses, acabou ajudando a desmontar o personagem que o presidente tentou impor!
Desmontado o personagem do presidente e um ex-presidente claramente fragilizado, os nomes que polarizaram a eleição viram um crescimento exponencial da dobradinha Ciro Gomes e Simone Tebet, que bateram com força nos dois polos em momentos chaves. Destaque para o imenso conhecimento de Ciro e poder de argumentação, frieza, domínio de tempo e argumentos por parte de Simone.
Você deve estar estranhando que em nenhum momento foi citado os outros dois nomes, Felipe D’avilla (NOVO) e Soraya Thronicke (União Brasil), simplesmente porque ambos foram coadjuvantes de luxo, sendo Thronicke aquela que conseguiu mais furar a bolha, principalmente ao confrontar o atual presidente.
Talvez o debate da Band seja muito importante e possa dar um novo gás as campanhas de Simone Tebet e Ciro Gomes, pois claramente mostra que existe sim outras opções bem estruturadas para qualificar o debate e sair dessa polarização burra, que só atrasa o país.
Se a tese de que, Bolsonaro e Lula se retroalimentam com essa polarização estiver certa, e o debate trouxer forte impacto na percepção do público, ambos estão em maus lençóis, principalmente o atual presidente, que tem uma parte de suas intenções de votos menos cristalizadas do que o petista. E por outro lado, Lula sabe que, enfrentar um Ciro ou Tebet em um possível segundo turno, pode aflorar sentimentos antipetistas e engajar pessoas mais ao centro, o que pode lhe render uma derrota!
Há tempos os candidatos da dianteira não se sentiam tão ameaçados. Devem ter se arrependido de terem ido ao debate.
