Brakan de Mozart Couto

“Uma obra de arte que merece ser descoberta!”

O formato Omnibus, o “Tarugo” de Brakan é um projeto gráfico incrivel.

Mozart Couto é um dos mais importantes quadrinistas do Brasil, tendo atuado em diversas obras, sua versatilidade e qualidade como roteirista sempre foram notáveis. Como desenhista idem, anexando ao seu estilo diversas influências, que passeiam entre o tradicional, as comics americanas e até mesmo mangá.

Ele durante um tempo tentou emplacar seu personagem, claramente inspirado em Conan, Brakan. Angariou fãs e expectativas por mais histórias, mas com um mercado complexo, não conseguiu dar andamento editorial, o que não o impediu de desenvolver uma sequência de tramas ao longo dos anos, que ficaram engavetadas e, graças a editora Universo Fantástico, viram a luz do dia em duas edições de luxo em capa cartão ou em uma integral de capa dura, um Omnibus que ganhou o carinhoso nome de “tarugo”.

UM CONAN BRAZUKA???

Alguns podem simplesmente torcer o nariz para esse bárbaro “possivelmente genérico”, ou mesmo achar que a falta de uma base sólida como as hq’s de um certo Cimério, que sempre puderam voltar ao seu brilhante criador, Robert E. Howard, para buscar um escopo narrativo mais aprofundado, poderiam minar a qualidade de Brakan, não é o caso!

Couto evoluiu claramente ao longo dos anos como roteirista, e como desenhista sua arte é de uma qualidade monstruosa e inconteste, aqui ele se apresenta como um narrador que sabe o que quer e que busca um dinamismo moderno para o seu Bárbaro.

Em suas mais de 440 páginas de arte, acompanhamos a saga de Brakan, um Bárbaro mercenário, que aceita missões aparentemente suicidas, tudo por dinheiro e claro, mulheres. Mas algo não está certo em sua alma e essa busca por autoconhecimento o levará aos recônditos da espiritualidade.

Para quem gosta de boa arte, a HQ é um prato cheio.


A HISTÓRIA

A trama se inicia em uma fortaleza onde o bruxo Wolgar prepara seu discípulo para dominar tudo, Ukran é o nome dele. Temendo perder território, um Rei envia sua filha, a princesa Willa, para resolver a situação. Ela procura e contrata Brakan e é a partir daí que a trama se desenrola, com muita pancadaria como todo fã gosta.

O primeiro arco é extremamente convencional no que concerne a junção de espada, magia e ação. Mozart nos entrega cenas de ação ilustradas com muito dinamismo, a trama é daquelas que o leitor lê de um fôlego só!

Ao fim do arco, o que chamamos de volume um, apresenta um segundo arco, que quebra totalmente as expectativas do que vimos no primeiro e segue com a evolução do personagem. Agora acompanhamos o desenvolvimento do mestre Gavaskar e sua importância nessa guinada que o personagem tem na trajetória do herói, e que guinada!

Mesmo mudando drasticamente o estilo narrativo e os desafios de Brakan, saindo de algo físico e adentrado o universo metafísico e espiritual, a trama não perde ritmo e muito menos a coerência.

Portanto, aqui fica claro uma coisa: quem esperava um Conan genérico, esqueça, o tour de force do personagem é mais complexo e profundo, e traz questões filosóficas como: “É possível superar os instintos e mudar quem somos?” é uma ode ao poder do conhecimento.

Ao fim do primeiro volume, ou metade do Omnibus, um respiro para admirar o que acabamos de acompanhar. Como será o próximo volume? Quais outras surpresas o autor prepara em seu roteiro depois de ter nos entregado ação incessante e reflexão em doses cavalares?

Se mentalmente dividirmos o Omnibus em duas partes, assim como os volumes de capa cartão, o início dessa segunda metade é muito interessante, voltando ao ritmo de mais ação e a volta de personagens carismáticos que vimos em outras histórias!

Temos Brakan atravessando uma floresta, rodeada de seres estranhos que logo descobriremos que se trata de aliados de uma figura macabra, que tem uma ligação direta com trama desenvolvida no volume anterior.

Couto não dá chance para o leitor respirar ao entregar um ritmo frenético e desenhos que mais parecem ter sido criados para pôsteres, em páginas duplas de deixar qualquer um de queixo caído.

Definitivamente é Mozart Couto em seu auge e com o coração na ponta da chuteira!


Esse virtuosismo artístico não tenta disfarçar um roteiro ruim, pelo contrário, dentro de sua simplicidade e objetividade e apostando em um plot twist eficiente, a primeira história da segunda parte redireciona, novamente, nosso bárbaro a novos caminhos.

E não para por aí, logo em seguida temos uma trama com muitos experimentos narrativos em um texto bizarro, mas ainda assim coeso o suficiente para manter o interesse nessa curiosa saga, é como se Grant Morrison decidisse escrever Conan!

Guerras se afunilam, traições inesperadas e muita ação permeiam a metade final, trazendo boas tramas e concluindo com muita qualidade uma epopeia de espada e magia brasileira, que inacreditavelmente, demorou muito para ver a luz do dia!

VEREDITO!!!

No seguimento, Brakan não apenas é uma das coisas mais interessantes dos quadrinhos latinos, mas se tratando do gênero fantasia, uma das melhores coisas surgidas em muitos anos, dando novo fôlego, apresentando novas ideias e ganhando o leitor ao apostar em caminhos menos óbvios em vários momentos!

Nota 10 de 10 (imperdível)

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