Jovem, de 26 anos, afirmou ter acionado a loja na Justiça. Ele estava com a namorada no momento da abordagem em Peruíbe (SP). A empresa foi procurada, mas não se manifestou.
Um garçom, de 26 anos, foi acusado por funcionários de uma loja em Peruíbe, no litoral de São Paulo, de ter furtado uma mochila que ele havia comprado no mesmo comércio um mês antes. O jovem contou ter sido julgado pela aparência, ter sofrido racismo e que acionou a empresa na Justiça.
O jovem, que prefere não se identificar, contou ter ido ao centro da cidade com a namorada para ela comprar um sapato de salto alto. Os dois entraram na loja, localizada na Avenida Padre Anchieta, mas como não gostaram das opções deixaram o estabelecimento.
De acordo com o jovem, o casal estava em direção a outra loja quando foi abordado por dois funcionários do comércio, que havia acabado de sair (veja o vídeo acima).
“Eles puxaram e apertaram o meu braço. Eu interpretei como uma forma de agressão porque eu me senti constrangido e senti que o cara estava querendo me bater”, afirmou o garçom.
O jovem contou à equipe de reportagem que, no momento da abordagem, um dos funcionários disse que a gerente tinha visto nas câmeras de monitoramento o rapaz furtando a mochila.
Nas imagens obtidas é possível ver o momento em que a dupla acusa o garçom e o conduz de volta à loja de calçados. Assim que entrou no comércio, uma mulher se apresentou como a gerente. Diferente do discurso usado pelos funcionários na abordagem, ela disse ter sido informada sobre o suposto crime por um cliente e que não seria possível ver as imagens das câmeras.
Funcionário aborda o garçom (de boné vermelho) durante acusação de furto a loja em Peruíbe (SP) — Foto: Arquivo pessoal
O garçom contou não ter saído do lado da namorada e que ela não foi acusada de furto. A mulher, inclusive, recebeu um pedido desculpas da gerente pela situação.
Por conta da diferença no tratamento, o jovem acredita ter sofrido preconceito por ser negro, ter tatuagens no rosto e estar com um colar guia de Umbanda — religião com influência africana.
“Eu não sei a intenção dele [funcionário] e porque me acusou de uma coisa que eu não fiz […]. Eu tinha acabado de sair do meu trabalho e ele me julgou pela minha aparência. Eu estava com a minha namorada e eles não falaram nada para ela”, apontou o garçom.
Depois da acusação e de ter voltado à loja, o jovem disse que a namorada recebeu um pedido de desculpas e que as imagens das câmeras de monitoramento só seriam cedidas por determinação judicial. Na sequência, o casal foi embora.
Funcionários acusaram garçom que estava com mochila comprada há um mês no estabelecimento — Foto: Arquivo pessoal
Ação judicial
O caso aconteceu em 25 de janeiro. No mesmo dia, o garçom contou ter registrado um boletim de ocorrência por calúnia e procurou o advogado Mario Bernardes.
Na última semana, a defesa entrou com uma ação judicial pedindo R$ 50 mil de indenização por danos morais. De acordo com o advogado, uma das argumentações usadas foi a acusação de furto ter sido fundamentada em preconceito, racismo e discriminação.
“A indenização por dano moral não tem só a finalidade de reparar o dano. Ela também tem um caráter pedagógico de punir a empresa ou a pessoa física pelo ato cometido. Ingressamos a ação contra a pessoa jurídica que é responsável pelos funcionários”, afirmou Mario.
A ação, porém, tem como base o constrangimento sofrido por Edson ao ser abordado pelos funcionários no meio da rua.
“É muito vergonhoso porque tinha muita gente […]. Eu me senti mal e fiquei triste. Eu estou psicologicamente abalado pela situação”, disse o garçom.
Em contato com a Kallan Calçados, mas não teve retorno até publicação desta reportagem.