Tias paternas, de 44 e 49 anos, foram presas e responderão pelos crimes de sequestro e cárcere privado. Guarda do menino é compartilhada entre o pai e a avó paterna, que teve o menor tirado à força pela mãe em Santos (SP).
O pai do menino, de cinco anos, que desapareceu após a mãe tomá-lo à força das mãos da avó paterna em Santos (SP) contou ter ficado surpreso ao descobrir que as irmãs foram presas por ajudarem a mulher no sequestro. As investigações continuam para localizar a criança, que não é vista há um mês.
A guarda da criança é compartilhada entre o pai e a avó paterna. Em 24 de abril, um dia depois do menino ser levado, a Justiça expediu um mandado de busca e apreensão do menor e, na última terça-feira (28), determinou a prisão temporária da mãe pelos crimes de sequestro e cárcere privado.
“Foi um baque para minha mãe. Não tínhamos a menor noção de que elas [irmãs] poderiam estar envolvidas”, afirmou o pai do menino, Eduardo Cassiano, de 50 anos, que é assistente de transporte rodoviário.
A delegada Deborah Lázaro, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Santos, explicou à equipe de reportagem que as irmãs, de 44 e 49 anos, não veem Eduardo como um bom pai para as outras filhas, de 19, 24 e 30 anos. “Isso causou uma certa revolta nas irmã”, disse ela, apontando a eventual motivação das duas em ajudar a mãe do sobrinho.
Eduardo, no entanto, afirmou que as filhas podem provar o contrário e que a alegação seria uma forma das familiares justificarem a ação. De acordo com o homem, uma das irmãs mora com a mãe – a avó do garoto, que o teve arrancado das mãos – e as duas não queriam que a idosa cuidasse do neto.
“Mesmo não gostando da mãe do garoto, resolveu ajudar para se livrar da criança […]. Minha mãe acredita que [elas ajudaram a mulher] por ciúmes”, finalizou Eduardo.
Mãe sumiu com o filho após ser filmada tirando-o das mãos da avó em Santos (SP) — Foto: Arquivo pessoal
Prisão decretada
A Justiça determinou a prisão temporária da mãe que desapareceu com o filho pelos crimes de sequestro e cárcere privado. Eduardo disse que a mulher poderia entregar o filho de forma espontânea para resolver a situação.
“Poderíamos entrar em um entendimento para um convívio saudável para mãe e filho”. Ele lamentou a situação ter chegado a tal ponto, de a mulher ter um mandado de prisão contra ela. “Não foi pela minha vontade e, sim, pela investigação policial. A minha única vontade é que meu filho apareça logo”, disse.
Investigações
Segundo a delegada Deborah, a linha de investigação, antes era tratada como ‘subtração de incapaz’, foi alterada pela corporação para ‘sequestro’ e ‘cárcere privado’.
“Alteramos a tipificação [do crime] para sequestro porque a criança foi tirada da sua casa, do seu espaço”, explicou ela. “Foi cerceada a sua liberdade e agora ela não pode e nem tem condições, até pela sua tenra [pouca] idade, de sair do local [onde é mantida] e voltar para os cuidados do pai”.
Tias presas
A delegada afirmou à equipe de reportagem que as duas mulheres, de 44 e 49 anos, foram presas pelos crimes de sequestro e cárcere privado após as investigações apontarem que elas ajudaram a mãe a sumir com o filho.
“Incentivaram essa mãe a arrebatar esse filho. […] arrumaram até uma pessoa [motorista indiciado] que a conduziu até São Paulo. Uma série de coisas que levaram a crer que elas tiveram uma participação ativa”, afirmou a delegada.
Tias de menino levado à força pela mãe são presas no litoral de SP — Foto: Yasmin Braga
De acordo com o boletim de ocorrência, as mulheres não quiseram prestar depoimento na delegacia. A Polícia Civil, então, cumpriu os mandados de prisão temporária [30 dias] e, em seguida, levou as irmãs à Cadeia Feminina de São Vicente (SP).
Indiciados
Os homens que auxiliaram a fuga da mulher foram identificados como Erivan Francisco da Silva, de 41 anos, e Maxwell Vegner Martins Nunes, de 38. A delegada Natalia Santos Batista Marcelino, que presidiu o inquérito policial, avaliou que ambos tinham conhecimento de que ela subtrairia o filho “de maneira escusa [evasiva] e violenta”.
De acordo com as investigações, Maxwell foi o motorista contratado para levar a mulher até o filho e, logo depois, à cidade de destino escolhida por ela. Erivan, por sua vez, aparece no vídeo de camiseta azul. Segundo o pai da criança, Eduardo Cassiano, esse seria um ex-cunhado da mãe do menino.
Entenda o passo a passo de como a mulher sequestrou o filho:
➡️Às 7h47, Erivan passou em uma moto pela rua do prédio onde o menino morava com a avó paterna.
➡️Um minuto depois, a mulher e Maxwell chegaram e estacionaram próximo ao edifício. A mãe disse que o homem que a esperava no carro não sabia de nada e era motorista de aplicativo. O vídeo e o inquérito apontam o contrário. Ela chegou no banco do passageiro e o rapaz a ajudou a subtrair o menino.
➡️Erivan encostou a moto ao lado do carro para conversar com a mulher e Maxwell. Eles gesticularam e apontaram para a direção do prédio onde o menino sairia.
➡️Em seguida, o ex-cunhado estacionou a moto e voltou a pé. Ele abriu a porta de trás do carro e continuou a conversa com a mulher e o motorista. Depois, Erivan se afastou e ficou andando nas proximidades do veículo.
➡️Às 8h, a avó saiu com o menino para levá-lo a escola, sendo surpreendida pela mãe dele. A mulher, vestida de vermelho, saiu do carro, pegou o filho pelo braço e ele chegou a cair. Ela o arrastou e, depois, levantou-o no colo, seguindo até o veículo. “A criança se jogava e gritava: ‘Vovó, vovó'”, disse o pai.
➡️Assim que a mulher saiu do carro, Maxwell fechou a porta do passageiro e abriu a de trás para que a mãe conseguisse entrar com o filho.
➡️Quando a mulher retornava ao carro, Erivan se aproximou. Ele ficou entre ela e a avó do menino, impedindo que a idosa se aproximasse do neto.
➡️Depois, o motorista levou a mãe e o filho para cidade de destino escolhida por ela. Enquanto isso, Erivan ficou no local conversando com as testemunhas e com a própria idosa.
➡️A mulher não foi mais vista com a criança e é investigada pela Polícia Civil. Maxwell e Erivan foram indiciados por ajudá-la a subtrair o menor.
De quem é a guarda?
Pai teme pelo bem-estar do filho após mãe tirá-lo à força das mãos da avó em Santos (SP) — Foto: Arquivo pessoal e Reprodução
O pai e a avó paterna estão com o menino há três anos. Eles obtiveram a guarda compartilhada provisória em 25 de janeiro após Eduardo entrar com a ação de regulamentação, com pedido de tutela antecipada, porque a mãe da criança havia ameaçado levar o filho para Aracaju (SE).
A mãe só tem autorização da Justiça para vê-lo com supervisão. Ela, inclusive, alega que resolveu tomar o filho à força após ser proibida de visitá-lo pelo pai e avó paterna do menino. Entretanto, Eduardo informou que a mulher podia ver o filho quando quisesse.
Mãe não vai devolver
A mãe contou à equipe de reportagem que pretendia devolver o menino ainda no dia 23 de abril, mas mudou de ideia e garantiu que vai ficar com a criança. A decisão, segundo ela, foi tomada após o homem fazer ameaças à família, acionar a Polícia Civil e a Justiça.
“Eu ia passar só o dia com ele e ia devolver de noite […]. Eu não vou mais devolver [o menino], ele é meu filho. Só [vou devolver] se a justiça vier e tomar”, afirmou a mãe da criança.
Ela se recusou a dizer à equipe de reportagem onde está com o filho, mas afirmou que o menino está bem. “Ele ficou um pouco assustado porque não tinha visto que era eu. Depois, ele ficou muito calmo e nem fala dele [pai]. Ele fala de mim e da avó [paterna]”, disse ela.