MP denuncia homem que deu a ‘voadora’ que matou idoso e chorou na reconstituição do crime

Tiago Gomes de Souza, de 39 anos, foi denunciado por homicídio qualificado. Vítima sofreu um traumatismo craniano e morreu após três paradas cardíacas.

O Ministério Público (MP) denunciou à Justiça o empresário acusado de matar um idoso de 77 anos com uma ‘voadora’ no peito pelo crime de homicídio qualificado. Conforme apurado nesta segunda-feira (17), o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) recebeu a denúncia e estipulou prazo de dez dias para a manifestação de Tiago Gomes de Souza.

O acusado foi preso por matar Cesar Fine Torresi enquanto este atravessava a Rua Pirajá da Silva de mãos dadas com o neto, de 11 anos, em 8 de junho. De acordo com boletim de ocorrência, Tiago dirigia um carro e freou bruscamente, momento em que o idoso apoiou as mãos sobre o capô do veículo. O motorista saiu do automóvel e o chutou no peito.

O promotor Fabio Perez Fernandez ofereceu a denúncia de homicídio qualificado por motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima. Ele justificou as qualificadoras com base no inquérito policial, que ainda não foi finalizado.

Segundo Fernandez, o fato de a vítima ter atravessado a rua fora da faixa de pedestres e encostado a mão no carro de Tiago é motivo fútil para justificar a ação do acusado, que desferiu um chute contra o tórax do idoso.

O promotor apontou que após o chute o idoso: “[Acabou] batendo fortemente a cabeça e sofrendo traumatismo crânio encefálico, ali ficando inconsciente, sem qualquer chance de defesa, sendo tal chute o golpe causador dos ferimentos que levaram à morte de César, que viria a ocorrer pouco depois”.

Fernandez ainda solicitou que Tiago pague, no mínimo R$ 300 mil, aos herdeiros da vítima “para reparação dos danos morais causados pelo crime”.

Preso por matar idoso com 'voadora' chora em reconstituição do crime em Santos (SP) — Foto: Silvio Luiz/A Tribuna Jornal e Arquivo Pessoal

Preso por matar idoso com ‘voadora’ chora em reconstituição do crime em Santos (SP) — Foto: Silvio Luiz/A Tribuna Jornal e Arquivo Pessoal

O advogado do acusado, Eugênio Malavasi, informou que a defensoria técnica contesta a denúncia oferecida pelo MP, “visto que os fatos se enquadram na lesão corporal seguida de morte (crime preterdoloso)”.

“Além disso, as qualificadoras descritas na denúncia são incompatíveis com o dolo eventual e, na essência, corroboram com o dolo (intenção) direito de ferir e não matar, portanto, o enquadramento é, sem dúvida, de lesão corporal seguida de morte”.

TJ-SP

O juiz da Vara do Júri de Santos, Alexandre Betini, recebeu a denúncia do MP no domingo (16) e determinou que o acusado responda à acusação, por escrito, no prazo de dez dias.

Ainda na decisão, Betini autorizou a expedição de ofício para que estabelecimentos próximos ao crime forneçam imagens das câmeras de segurança e monitoramento da data dos fatos.

Também no documento, o juiz negou a concessão de prisão domiciliar solicitada pela defesa de Tiago, mantendo a prisão preventiva do acusado.

Reconstituição

Durante a reconstituição do caso na quinta-feira (13), Tiago chorou, se ajoelhou no chão e pediu desculpas. Ele ainda alegou ter sofrido um ‘ataque de fúria’ diante da atitude da vítima em adverti-lo por ter avançado com o carro contra ela e o neto.

Ele relatou à polícia que não teve a percepção se havia machucado ou não o idoso quando ‘avançou’ com o veículo. Ainda de acordo com o suspeito, a vítima e o neto continuaram a caminhar após a ‘discussão’.

Tiago Gomes Souza, de 39 anos, que deu a ‘voadora’ em idoso, chorou na reconstituição do crime em Santos (SP) — Foto: Matheus Croce/TV Tribuna

Quem era a vítima?

Cesar Torresi morreu após levar 'voadora' na altura do peito em Santos (SP) — Foto: Arquivo Pessoal e Reprodução/Redes Sociais

Cesar Torresi morreu após levar ‘voadora’ na altura do peito em Santos (SP) — Foto: Arquivo Pessoal e Reprodução/Redes Sociais

O filho do idoso, Bruno Cesar Fine Torresi, contou à equipe de reportagem que o pai era divorciado e morava em Santo André, tendo como costume visitar os três filhos e seis netos, que moram em Santos, Sorocaba e Jundiaí.

“Nesse final de semana meu pai veio nos visitar e estava indo ao shopping passear com meu filho de mãos dadas. […] A rotina dele era visitar os três [filhos] em cada cidade, pegando os netos e passeando com todos eles”, afirmou Bruno.

O caso

De acordo com o boletim de ocorrência, a criança relatou ao pai — filho da vítima — que ela e o avô atravessavam a Rua Pirajá da Silva entre os carros, na tarde de sábado (8), porque o trânsito estava parado.

De repente, segundo o menino, um carro avançou na direção deles, freou bruscamente e o idoso se apoiou no capô sem causar danos. No momento em que a vítima e o neto terminaram de atravessar, o motorista foi até eles a pé e deu a voadora, um chute no peito do homem.

Homem, de 39 anos, foi preso no bairro Aparecida, em Santos (SP) — Foto: Redes sociais

Homem, de 39 anos, foi preso no bairro Aparecida, em Santos (SP) — Foto: Redes sociais

A Polícia Militar foi acionada e, ao chegar no local, viu que o idoso era atendido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A vítima estava desacordada e foi encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Leste, onde foi intubada, teve três paradas cardíacas e não resistiu.

Prisão de suspeito

Inicialmente, o caso havia sido registrado como lesão corporal seguida de morte na CPJ de Santos. Após a audiência de custódia, no domingo (9), o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) converteu a prisão em flagrante para preventiva.

Em nota, o advogado de defesa de Tiago, Eugênio Malavasi, solicitou habeas corpus para “concessão da liberdade do acusado pela ausência de fundamentos da prisão, que pode ser substituída por medidas cautelares diversas”.

No entanto, o desembargador Hugo Maranzano, da 3ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), negou a liminar de habeas corpus solicitada pela defesa de Tiago.

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