Hariel Borges da Silva tinha expectativa de entrar para as Forças Armadas. Ele foi preso após arrancar um dos olhos e desfigurar o rosto do avô, de 77 anos, em Santos (SP).
Hariel Borges da Silva, o jovem de 18 anos que foi preso após arrancar o olho do avô em Santos, no litoral de São Paulo, tinha como objetivo entrar para o Exército. A informação foi divulgada pela mãe do rapaz à delegada Liliane Lopes Doretto, titular do 3° Distrito Policial (DP) da cidade.
O jovem foi preso após atacar Oswaldi da Silva, de 77 anos, dentro do próprio apartamento, na Rua Frei Francisco Sampaio, no bairro Aparecida, na tarde de quarta-feira (24). O idoso foi internado na Santa Casa de Santos.
A delegada Liliane Doretto informou que Hariel foi criado pelos avós maternos. Há um ano e meio, desde a morte da avó, ele passou a conviver mais com a vítima, com quem tinha uma relação muito próxima, segundo relato da mãe à policia.
De acordo com a delegada, o idoso não corre risco de morte, mas pode ficar cego. Enquanto teve um olho arrancado pelo neto, o outro sofreu lesões que o comprometeram bastante.
Queria o Exército
Ainda com base no depoimento da mãe do jovem à polícia, o filho estava se preparando para integrar o Tiro de Guerra, centro de formação para reservistas do Exército Brasileiro. O jovem tinha, inclusive, uma entrevista marcada para 19 de agosto.
“Ele tinha o sonho de entrar para o Exército. A mãe falou isso para mim: que ele estava ansioso, muito ansioso para esse dia chegar”, afirmou a delegada.
Notebook que teria sido utilizado pelo jovem para agredir avô de 77 anos (à esq.) — Foto: Polícia Civil/Divulgação
Motivação
Segundo a delegada, há duas semanas o idoso descobriu que o neto estava fumando maconha e, segundo a delegada, não gostava de ter o avô o controlando após a morte da avó.
No crime, o jovem manifestou o desejo de pegar o carro do idoso emprestado, mas teve o pedido negado. Em depoimento à polícia, Hariel confessou que estava sob efeito da maconha e disse ter ouvido vozes antes do ataque.
Apartamento de idoso ficou revirado após ataque do neto em Santos (SP) — Foto: Reprodução
O jovem partiu para cima do idoso com vários murros e chegou a pegar uma faca, mas não desferiu golpes com o objeto. Hariel ainda utilizou um notebook para lesionar o corpo do idoso com pancadas.
Influência da maconha
A delegada acredita que o THC, substância presente na maconha, pode ter atuado como um gatilho para o jovem e, consequentemente, o levado a um surto. Apesar de não ser laudado, ela ressaltou que ele tem uma predisposição à esquizofrenia.
Idoso, de 77 anos, foi atacado pelo neto, no bairro Aparecida, em Santos (SP) — Foto: Carlos Cruz/Canal5WebTV
“Ele estava apresentando comportamento muito estranho de depressão, ela [mãe] fala. Mas, depois, ligando os pontos e depois de ouvir todo mundo, eu sei que é por conta da maconha”, disse a autoridade policial.
Apesar de todos os ferimentos e de ter ficado com o rosto desfigurado, o idoso, a princípio, não corre risco de morte. Ele permanece internado sem previsão de alta. O jovem foi preso por tentativa de homicídio duplamente qualificado e permanecerá assim até decisão judicial.
Tiro de Guerra
Segundo a Diretoria de Serviço Militar do Exército Brasileiro, o Tiro de Guerra é um órgão de formação da reserva do Exército encarregado de formar cidadãos para compor a reserva mobilizável.
O Tiro de Guerra permite ao jovem que completa 18 anos prestar o serviço militar obrigatório por Lei sem sair de sua cidade. Assim, para ser um “atirador”, basta que o jovem viva em um município que tenha o órgão de formação e faça seu alistamento militar, seja por meio do site ou comparecendo à junta de Serviço Militar mais próxima à casa onde vive.
Os jovens chamados atiradores recebem instrução das 6h às 8h da manhã, podendo conciliar o serviço militar com o trabalho e estudo.
Ainda segundo a Diretoria de Serviço Militar, o atirador participa de atividades específicas das Forças Armadas por um período de 6 a 10 meses, incluindo treinamento físico militar, marchas, acampamentos, instruções de armamento e tiro, camuflagem, primeiros socorros, prevenção e combate à incêndio.
Além disso, os jovens também participam de atividades cívico sociais junto à sua comunidade, como campanhas de vacinação, recolhimento e doação de agasalhos.
O caso
Idoso, de 77 anos, foi esfaqueado pelo neto, no bairro Aparecida, em Santos (SP) — Foto: Arquivo Pessoal
Hariel agrediu o avô dentro do apartamento onde moram, no bairro Aparecida, em Santos. Segundo relato de testemunhas à polícia, o jovem apareceu ensanguentado e falando que havia matado o avô.
A PM recebeu a denúncia e, assim que os policiais chegou ao local, encontraram manchas de sangue na porta do imóvel. O idoso estava na sala, sem o olho e com o rosto desfigurado.
Apesar do estado grave, a vítima conversou com os policiais e afirmou ter sido agredida pelo neto – segundo a delegada, o médico constatou que não houve lesão por faca.
Uma ambulância foi acionada, socorreu e levou o idoso ao Pronto-socorro da Santa Casa de Santos. Na delegacia, os PMs informaram que o idoso apresentava diversas marcas nas mãos, características de ferimentos provocados por objeto perfuro cortante.
De acordo com o boletim de ocorrência, foram apreendidos dois celulares, isqueiros, folhas de seda, tesourinhas e duas porções de tabaco, mas não foi encontrada maconha no imóvel.
O agressor foi conduzido à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Leste, onde passou por avaliação psiquiátrica antes de ser preso.