
O Nu Metal foi um movimento gestado durante os anos 90 e 2000, era influenciado pelo heavy metal, punk, rap, música eletrônica e pop. O gênero talvez poderia ser classificado melhor como uma verdadeira miscelânea de estilos e gêneros, sem amarras tradicionais ou regras, aliás, penso hoje a luz do tempo que talvez a única regra fosse fazer um som pesado, mas que conseguisse tocar facilmente nas rádios.
E dito e feito, o movimento, talvez o último gigante ligado ao rock, teve um impacto significativo ao falar com uma geração, a pré e consequentemente geração X, diferentemente dos gêneros tradicionais que falavam de temas ligados ao horror ou mesmo o hard com seu estilo festeiro, o Nu Metal falava sobre uma geração muitas vezes buscando um ideal, deslocada com a chegada dos novos tempos, com uma revolta na garganta as vezes difícil de ser explicada, bullying, depressão, sexualidade, política, enfim, tudo era mastigado de forma a gerar riffs pesados e refrãos grudentos e que representavam de alguma forma uma nova sociedade que estava surgindo.
Aqueles fãs de músicas pesadas mais tradicionais, classificavam o gênero como modismo passageiro, parte da crítica torcia o nariz e o público adorava. Eram shows lotados, discos que vendiam horrores e um gênero, que assim como o grunge, de certa forma ditou a moda e o visual da molecada, com roupas largas, não necessariamente pretas e tênis adidas, o novo metal era sobretudo uma forma clara de comunicação e o visual obviamente era importante.
Nesse esteio surgiram bandas gigantes: Korn, Limp Bizkit, Coal Chamber, Linkin Park, Papa Roach, Slipknot entre outras, algumas sobreviveram ao teste do tempo, outras assim como em qualquer gênero desapareceram, algumas ainda falam com um nicho e se no grunge, talvez apenas o Pearl Jam sobrou com força o suficiente de lotar um estádio, no gênero que chacoalhou o mundo no século 21, continua ainda tocando o coração do público em pleno 2025 e levando milhares de fãs aos estádios mundo afora.
É o caso do System of a Down que fez uma série de shows no Brasil no último mês maio, o qual tive o prazer de ver o segundo, no dia 11 e posso dizer: as músicas ainda têm uma força inacreditável ao vivo e continuam atuais, muito atuais.
Foram por volta de 32 canções escolhidas a dedo que deixaram o Allianz Park em polvorosa. Serj Tankian nos vocais, Daron Malakian na guitarra, Chavo Odadjian no baixo e John Dolmain na bateria regem fãs alucinados como se ainda tivessem 20 anos de idade.
Com um estilo pesado, com quebras cadenciadas, harmonias vocais interessantes, guturais, um tom messiânico e letras filosóficas, com críticas sociais e políticas, a banda que conta com descendentes de armênios, tem um som moderno que parece que foi produzido ontem.
E com tanta intensidade e peso, as canções funcionam que é uma beleza ao vivo, e com a experiência que o tempo lhes trouxe é só pegar os hits, organiza-los em uma sequência lógica esperta e Voilà, temos um dos melhores shows do planeta, que não titubeia em pausas desnecessárias e pirotecnia barata, é hit atrás de hit e tome moshes, sinalizadores e rodas que deixam tudo visualmente caótico.
Falar da força de canções como B.Y.O.B, Sugar, Toxicity, Cigaro, I-E-A-I-A-I-O, Chop Suey e outras diversas é o chamado chover no molhado, não apenas ainda são relevantes, mas estão encravadas na história da cultura pop de todo o planeta.
Aos fãs só resta viver um momento catártico e de verdadeira experiência transcendental, quase religiosa e que 30 anos depois continua atual, firme, forte e imbatível, como uma rara banda gigante deve ser.
Para quem ainda prefere lutar contra os fatos e dizer que o Nu Metal, assim como o rock morreu, só fica a pena, viver em um mundo com um System of a Down ainda por aí e não aproveitar, pode trazer sérios arrependimentos futuros, acredite!
Nota 10 de 10.