Idosa que urina sangue há dois meses luta por consulta com urologista: ‘cheira mal’

Elizabeth Bernardo Figueiredo acredita que o sistema de saúde de Mongaguá, no litoral de SP, está ‘sem controle, falido’. Ela não tem recursos para pagar uma consulta particular.

Uma idosa de Mongaguá, no litoral de São Paulo, vive um pesadelo desde que descobriu um cálculo de 2,4 cm na bexiga. Aos 71 anos, Elizabeth Bernardo Figueiredo luta por uma consulta com um médico urologista pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para remover a pedra que, segundo ela, a faz urinar sangue há pelo menos dois meses.

Nesta quarta-feira (13), a artesã explicou que antes de descobrir o cálculo, os sintomas já eram: dor de cabeça e sangue na urina. Pré-diabética e com propensão a desenvolver problemas cardíacos, ela teme sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) devido a recorrência de picos de pressão.

Para Elizabeth, o sistema de saúde municipal “está falido, sem controle”, o que se traduz na demora para receber o atendimento especializado. “Quando eu ando, me esforço, eu urino sangue puro. Um ou dois dias depois eu urino sangue escuro, e cheira mal, muito mal”, desabafou.

A idosa contou que, após a reportagem ter entrado em contato com a prefeitura, a consulta foi marcada para o 20 de dezembro, no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) Santos (veja mais abaixo).

Diagnóstico

Em um sábado no início de outubro, Elizabeth acordou sentindo fortes dores de cabeça e urinando muito sangue. No Pronto-Socorro Vera Cruz, o exame de urina apontou para uma infecção e ela foi medicada com antibióticos por 10 dias.

Ela retornou no Ambulatório Municipal UBS Vila Operária, onde a médica emitiu uma guia com pedido de urgência para consulta na urologia. “Eu já fui umas cinco vezes no posto de saúde, porque eu urino muito sangue, minha pressão sobe”.

Ela continuou: “Eu chego lá [hospital] e eles tratam da minha pressão, fazem exame de urina. Não dá infecção, só a quantidade de sangue. […] às vezes, de madrugada, eu acordo sangrando e a pressão já está muito alta”, lamentou.

‘Queima toda a parte genital’

Elizabeth fez uma cirurgia para incontinência urinária, chamada “sling”, há aproximadamente 8 anos. Ela pensou que a operação teria desencadeado a pedra, mas o ultrassom mostrou que a placa que levanta a bexiga estava no lugar. Ela pagou R$ 120 pelo exame em um laboratório particular, pois, segundo ouviu de uma médica, “demoraria um ano pelo SUS”.

Devido à presença do cálculo, a urina de Elizabeth fica muito ácida e “queima toda a parte genital” dela. Além da dor, ela precisa se lavar e passar uma pomada na região sempre que vai ao banheiro. Sempre que fica nervosa também sofre com os picos de pressão.

Segundo a idosa, sempre que fala com alguém sobre o serviço de saúde no município escuta reclamações. “A gente percebe que o sistema está falido e sem controle”.

Idosa de Mongaguá (SP) tem sangramentos constantes devido à pedra na bexiga — Foto: Arquivo pessoal

Idosa de Mongaguá (SP) tem sangramentos constantes devido à pedra na bexiga — Foto: Arquivo pessoal

Exame perdido

Quando o ultrassom mostrou a pedra na bexiga, ainda em outubro, Elizabeth fez exames de sangue, urina e fezes. No fim de novembro, quando foi buscar os resultados, o posto afirmou que estavam no laboratório.

No laboratório, encontrou apenas os testes de sangue e urina. O de fezes não acharam e disseram que estava no posto de saúde, mas a unidade negou. Após uma reclamação na Secretaria de Saúde o exame passou a constar como “perdido”.

A pasta orientou a idosa a voltar no posto para marcar uma consulta com o urologista, o que ela já havia feito. “Acontece que essa consulta no urologista já está pedida há dois meses. […] eles alegam que é demorado”.

A senhora recebe R$ 1,3 mil de pensão do marido, que é falecido, e tem R$ 219 descontados mensalmente devido a um empréstimo. Ela considera inviável um tratamento particular para o cálculo na bexiga.

“O que a médica me falou é que vai ter que implodir a pedra, porque ela é grande. Falou que a minha sorte é que está na bexiga, porque, se estivesse no rim, eu não aguentaria a dor”.

Prefeitura

Em nota, a prefeitura informou que a Diretoria de Saúde da cidade atende procedimentos de baixa complexidade, e que o caso se enquadra em média complexidade. Com isso, o município depende das vagas pactuadas via Governo do Estado e disponibilizadas por meio do Sistema CROSS.

Segundo a administração municipal, há uma demanda elevada para a especialidade na região, e a distribuição de lotes é acompanhada de perto pelas equipes da Central de Regulação de Vagas (CRV), que analisa a sinalização da prescrição médica quanto à urgência do caso.

“Quanto à paciente em questão, a solicitação está data de 18/10/2023, sem indicação de priorização. Portanto, foi inserida no sistema de fila. De qualquer forma, a CRV conquistou um bolsão de consultas para a especialidade e a paciente conseguiu ser inserida. Sua consulta está agendada para 20 de dezembro no AME de Santos”, disse.

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