Irmã de homem apontado como ‘Príncipe do Crime’ diz que ele é inocente e atuava em time de futebol no litoral de SP

Allan de Morais Santos, segundo a irmã, não tinha mais envolvimento com o crime. Ele trabalhava como auxiliar de roupeiro do Jabaquara Atlético Clube e foi morto voltando para casa após um jogo.

A família de Allan de Morais Santos, apontado como ‘Príncipe’ de uma facção criminosa, nega que o homem estivesse envolvido com algo ilegal. A irmã Brenda Morais Santos garantiu que o familiar deixou o crime há anos, e que estava voltando do trabalho, como auxiliar de roupeiro do Jabaquara Atlético Clube, quando foi morto por policiais militares em Santos, no litoral de São Paulo.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), Allan foi baleado por policiais após desobedecer a uma ordem de parada e jogar o carro contra a viatura na Avenida Martins Fontes, no sábado (10). O homem, de 36 anos, chegou a ser encaminhado à Santa Casa, mas não resistiu.

Ainda de acordo com a SSP-SP, Allan tinha passagens por tentativa de homicídio e associação criminosa. Questionada sobre o passado do irmão, Brenda afirmou que ele havia mudado de vida desde que deixou a prisão, em 2021.

A familiar contou à equipe de reportagem que Allan cumpria pena em regime aberto e seguia todas as obrigações com a Justiça. “Todo mês ia assinar [os documentos pelo benefício do regime aberto]. Aí começou a trabalhar direitinho e fazia o EJA [Educação para Jovens e Adultos]”, disse Brenda.

Família diz que Allan estava estudando e trabalhava no Jabaquara Atlético Clube — Foto: Arquivo Pessoal

Família diz que Allan estava estudando e trabalhava no Jabaquara Atlético Clube — Foto: Arquivo Pessoal

Segundo ela, na semana em que foi morto, o irmão tinha sido aprovado no exame prático para a categoria D da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Isso permitiria fizesse excursões de van com a esposa.

“Estava tentando escrever uma nova história”, lamentou Brenda.

Carreira no futebol

O rapaz também trabalhava no Jabaquara Atlético Clube. No dia da morte, inclusive, havia ajudado a equipe na partida contra o Taquaritinga, que aconteceu às 15h no estádio Espanha, no bairro Caneleira.

De acordo com Brenda, ele tinha saído do jogo e estava voltando para casa, no Morro São Bento, quando foi abordado. A irmã contou que uma testemunha viu Allan sendo parado por uma equipe policial pouco antes de ser morto por outros agentes na Avenida Martins Fontes.

Agora, ela diz que a família busca por câmeras de monitoramento para buscar justiça. Brenda questiona a abordagem policial e como foram encontradas armas no carro do irmão, uma vez que ele havia acabado de sair do trabalho, um local onde é feita vistoria contra armas.

“Como uma pessoa vai trabalhar com uma arma? Onde ele trabalha tem vários policiais, porque é um campo de futebol. Como uma pessoa vai levar a arma para um campo de futebol?”, questionou Brenda.

Família

Allan era muito próximo da família, inclusive de Brenda (à esquerda) e dos sobrinhos — Foto: Arquivo Pessoal

Allan era muito próximo da família, inclusive de Brenda (à esquerda) e dos sobrinhos — Foto: Arquivo Pessoal

Carinhoso, brincalhão, sorridente e amoroso. É assim que Brenda descreveu o irmão, dizendo que Allan sempre estava por perto da família e era carinhoso com todos, inclusive com os sobrinhos.

“Toda semana ele ia em casa […]. A gente [família] está sem acreditar, porque ele estava trabalhando, tudo bonitinho, direitinho, não estava devendo nada para ninguém. Fizeram uma maldade com ele”, relatou a irmã.

Allan foi sepultado no Cemitério do Saboó na segunda-feira (12).

Regime aberto, trabalho e estudo

Em nota, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) informou que Allan comparecia em cartório mensalmente e assinava o benefício em Regime Aberto, na Comarca de Santos.

Procurado, o Jabaquara Atlético Clube informou que o rapaz não era funcionário contratado, mas atuava como ajudante do roupeiro do elenco profissional em uma espécie de freelancer. “Ele comparecia aos treinamentos e jogos da equipe e trabalhou no confronto do último sábado com o Taquaritinga, na Caneleira”.

Segundo a irmã de Allan, ele estava estudando no Centro Estadual de Educação Supletiva Maria Aparecida Pasqualeto Figueiredo, no bairro Aparecida. Procurada a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para questionar a frequência dele nas aulas, mas não recebeu retorno.

Versão da polícia

A SSP-SP informou que policiais militares averiguavam uma denúncia sobre transporte de armas em um carro Jeep Compass no sábado (10). Desta forma, Allan foi interceptado pelos agentes na Avenida Martins Fontes, mas desobedeceu a ordem de parada, jogando o veículo contra a viatura e sendo baleado em seguida.

Ele foi socorrido na Santa Casa de Santos, mas não resistiu. “No carro dele os policiais apreenderam uma pistola e um fuzil calibre 556”, diz a nota da secretaria.

Polícia afirma que apreendeu armas com o suspeito — Foto: Divulgação/SSP-SP

Polícia afirma que apreendeu armas com o suspeito — Foto: Divulgação/SSP-SP

Questionada sobre as denúncias, a SSP-SP afirmou que todos os casos de morte decorrente de intervenção policial são rigorosamente investigados pela 3ª Delegacia de Homicídios da Deic de Santos, com o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário.

Suspeitos mortos

Vinte e dois suspeitos morreram desde o reforço no policiamento da Baixada Santista pela Operação Verão. As mortes começaram após o reforço do policiamento com o assassinato do PM das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Samuel Wesley Cosmo.

Em nota, a SSP-SP afirmou que todos os casos são rigorosamente investigados pela 3ª Delegacia de Homicídios da Deic de Santos, com o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário.

Mortes de policiais

Policiais militares Marcelo Augusto da Silva, Samuel Wesley Cosmo e José Silveira dos Santos, mortos na Baixada Santista (SP) — Foto: Reprodução/Redes Sociais e g1 Santos

Policiais militares Marcelo Augusto da Silva, Samuel Wesley Cosmo e José Silveira dos Santos, mortos na Baixada Santista (SP) — Foto: Reprodução/Redes Sociais

No dia 26 de janeiro, o policial militar Marcelo Augusto da Silva foi morto na rodovia dos Imigrantes, na altura de Cubatão. Ele foi baleado enquanto voltava para casa de moto. Uma grande quantidade de munições estava espalhada na rodovia. O armamento de Marcelo, no entanto, não foi encontrado.

Segundo a Polícia Civil, Marcelo foi atingido por um disparo na cabeça e dois no abdômen. Ele integrava o 38º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) de São Paulo, mas fazia parte do reforço da Operação Verão em Praia Grande (SP).

No dia 2 de fevereiro, o policial das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Samuel Wesley Cosmo morreu durante patrulhamento de rotina na Praça José Lamacchia. O agente chegou a ser socorrido para a Santa Casa de Santos (SP), mas morreu na unidade.

Uma gravação de câmera corporal obtida mostra o momento em que o soldado da Rota foi baleado no rosto durante um patrulhamento no bairro Bom Retiro.

Cinco dias depois, o cabo PM José Silveira dos Santos, do 2⁰ Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP), morreu ao ser baleado durante patrulhamento no bairro Jardim São Manoel, em Santos. Na ocasião, outro policial militar foi baleado e está internado.

‘Chip’ é preso em MG

Kaique Coutinho do Nascimento, o 'Chip' (à dir.), é suspeito de matar o PM da Rota Samuel Wesley Cosmo — Foto: Reprodução

Kaique Coutinho do Nascimento, o ‘Chip’ (à dir.), é suspeito de matar o PM da Rota Samuel Wesley Cosmo — Foto: Reprodução

Na última quarta-feira (14), a Polícia Militar prendeu o suspeito de matar o PM da Rota Samuel Wesley Cosmo. Kaique Coutinho do Nascimento, de apelido ‘Chip’, foi detido em Uberlândia, em Minas Gerais.

Foi apurado junto à Polícia Militar que ‘Chip’ foi preso no Bairro Gávea. A informação foi confirmada pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, por meio das redes sociais.

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